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16 fevereiro 2012

FORMAÇÃO DOS FUTUROS PADRE

Em 2010, a CNBB divulgou o documento "Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil", no qual se elaboram caminhos para uma formação dos padres mais aprofundada, considerando os tempos em que estamos vivendo. Este documento se inicia com "desafios de mudança de época", mostrando a situação da cultura pós-moderna e também do nosso país, em termos socioeconômicos e culturais.
Mas quais seriam, hoje, os principais desafios para a formação dos futuros padres? Certamente são inúmeros.
A cultura pós-moderna estabelece alguns paradigmas, que se apresentam como desafios no processo pedagógico de formação dos futuros padres. Dentre os mais populares, está a libertação das pessoas em relação às instituições, a Deus, à moral e de todo e qualquer tipo de norma, regra e tradição.

Outro desafio paradigmático pós-moderno é a aceitação de tudo como "normal", lícito e moralmente correto. Na cultura pós-moderna, não existe mais "certo" ou "errado", porque não se têm mais referenciais seguros e acreditáveis. Todos os referenciais (religiões, família, Estado, leis, educação) se tornaram "verdades" construídas para dominação e formas de poder e, por isso, podem ser desconstruídas, modificadas ou relativizadas.

Nesse turbilhão de novidades "libertadoras", está também a inexistência do pecado: nada mais é pecado ou imoral. Tudo deve ser permitido e compreendido à luz da diluição e da desconstrução.

É possível superar tais desafios paradigmáticos? Eu acredito que sim, pois a educação não deve perder-se no temor do pós-moderno. Deve procurar conduzi-lo e ser-lhe o sujeito histórico. Não se pode ficar com medo, mas deve-se dialogar com esta cultura que estamos inseridos e na qual vivemos. Pois em tempos nos quais "não há vento favorável", é indispensável "eleger um rumo" que nos leve aonde queremos chegar.

Este rumo está claro para a Igreja e para o processo formativo dos futuros padres, muito bem apresentado no rico e recente ensinamento da Igreja. Faz-se necessário darmos passos concretos de retomarmos na prática a eclesiologia do Concílio Vaticano II, o qual nos indicou uma Igreja Povo de Deus, peregrina no mundo, assumindo para si tanto as alegrias como as tristezas da humanidade. É preciso retomar Medellín, uma Igreja pobre que ama os pobres, uma Igreja de Comunhão e de Participação, como queria Puebla, uma Igreja discípula e missionária, como indicou recentemente a conferência de Aparecida.

A formação dos futuros padres deve ajudar a todos os envolvidos nesse rico processo a estar vigilante às manifestações cotidianas que lhe advêm. Apreender a grandeza de uma vida em constante mudança, maturação, conversão. Não há como escapar do enfrentamento. "É hora de um silêncio sagrado e de uma escuta sagrada. Acima de tudo, é hora de uma fala honesta e corajosa - hora de falar a verdade em amor" (Cozzens). Com a palavra, então, os formandos e os formadores conscientes de seu lugar, na vivência de seu carisma e de sua missão na Igreja e no mundo de hoje.

Padre Helder Salvador é reitor do Seminário Maior São João Maria Vianney da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim

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